A comunicação não violenta não significa ser doce ou amigável o tempo todo. O alerta é de Liliane Sant’Ana, fundadora do Instituto CNV Brasil. A especialista chama a atenção para a necessidade de identificar a violência no modo de comunicar para construir mais empatia nos diálogos. “Falamos muito mais do impacto no outro quando falamos de comunicação violenta: quando você causa culpa, medo ou vergonha no outro. Você não é responsável por essas emoções, mas, às vezes, usamos palavras, gestos e atitudes que fazem com que isso seja mais propício”, explicou, durante o webinar ‘A importância da comunicação não violenta na atualidade’, transmitido no dia 07/04.
Durante a atividade, Liliane e Mafoane Odara, gerente do Instituto Avon, explicaram o que é a comunicação não violenta, como aplicá-la no dia a dia do trabalho e qual a importância desse recurso dentro da gestão. A mediação da conversa ficou com Natasha Santos, Analista de Diversidade e Inclusão LATAM do Serasa Experian.
O QUE É COMUNICAÇÃO NÃO VIOLENTA?
A comunicação não violenta, um termo criado pelo psicólogo norte-americano Marshall Rosenberg, prioriza o diálogo e a negociação, refletindo sempre sobre o impacto que causamos no outro com nossas palavras, gestos e atitudes. A proposta é conseguir estabelecer uma comunicação em que as necessidades de todos sejam atendidas. Para isso, é preciso compreender que a violência parte do lugar de não atendimento dessas necessidades.
Para Mafoane, é fundamental entender que a violência mora dentro de cada um e aprender a lidar com esse fato. “A gente não é só responsável pelo que dizemos, somos responsáveis pelo que a pessoa escuta. Eu trabalho com violência contra mulheres e falamos sobre o que não devemos fazer nesses casos, porque muitas vezes não é óbvio. Por mais que eu queira ajudar uma mulher que está passando por essa situação, quando eu aponto o dedo na cara dela e falo com ela de maneira incisiva, esse gesto lembra exatamente o gesto da agressão, daquilo que a gente quer que ela saia. O quanto de violência, mesmo quando queremos ajudar, acabamos criando?”, provoca.
FERRAMENTAS PRÁTICAS PARA A COMUNICAÇÃO NÃO VIOLENTA
De acordo com Mafoane, um dos aspectos mais importantes da comunicação não violenta é não entrar em um diálogo para ‘ganhar’ ou convencer as pessoas. O primeiro passo é ouvir genuinamente a pessoa. Em seguida, é preciso ter empatia e entender como você pode afetar o outro - a especialista lembra que o ódio é um sentimento que se expressa quando alguém sente que não pertence ou não se encaixa naquele lugar. Daí surge a importância de trazer todos para o diálogo e fazer com que se sintam ouvidos.
Uma dica importante de Mafoane é também conseguir expressar a insatisfação de maneira assertiva. Explicar para o outro como aquela fala afeta você, outra pessoa ou algum grupo é fundamental para estabelecer o diálogo. “Se alguém te fala algo de maneira agressiva, ela quer expressar alguma necessidade e não está conseguindo. Por isso, é importante explicar que a forma com que a pessoa está se expressando causa um sentimento - de medo, por exemplo. Essa forma de conseguir se colocar, trazendo a sua necessidade, ajuda a pessoa a encontrar outra forma de falar”. Outro aspecto importante é, ao interpretar uma mensagem, se certificar de que o emissor quis dizer aquilo mesmo - afinal, na hora de um sentimento forte, a pessoa pode falar algo que não é aquilo que quer dizer.
Para Liliane, uma parte importante desse processo é o autoconhecimento. “Precisa de muita sabedoria interna, de olhar para dentro e se centrar. Para tomar consciência do que estamos fazendo, do nosso lugar, é bastante importante ter esse movimento de olhar pra dentro”, lembra.
QUATRO COMPONENTES DA COMUNICAÇÃO NÃO VIOLENTA
Existem quatro componentes essenciais para a comunicação não violenta:
- Observar e separar o julgamento daquilo que de fato aconteceu;
- Entender os sentimentos causados a partir daquela interação e nomeá-los;
- Identificar a necessidade que está sendo posta naquele diálogo: o que cada um precisa? O que é importante para mim e para a outra pessoa? Há algum desejo que não está sendo nutrido?
- Por último, vem a fase do pedido - a ideia é explicitar a sua necessidade para o outro. “Quando falamos sobre as necessidades, os conflitos param de existir e vira um campo de criação”, relata Liliane.
Errar neste processo faz parte do aprendizado, como lembra Mafoane. “A gente tem que se reconhecer como parte porque reproduzimos a violência que tentamos combater. A comunicação não violenta é um exercício: como qualquer outro exercício, às vezes você vai acertar e outras vai errar”.
O QUE SÃO OS WEBINÁRIOS?
São transmissões ao vivo de bate-papos e entrevistas, exclusivos online, sobre diversos assuntos do mundo empresarial.
PARA QUEM SÃO?
Para todos os associados, sem limites de participantes, sendo encontros online e gratuitos.
COMO FUNCIONAM?
São diversas atividades online ao ano disponibilizadas em tempo real e através da plataforma Amcham Connect.